O voo do primeiro avião elétrico tripulado da América Latina

Esta semana pontuou o setor de aviação com o registro histórico do voo inaugural do primeiro avião elétrico tripulado da América Latina. Na terça-feira (23.06), Itaipu Binacional e a empresa ACS Aviation, de São José dos Campos (SP), apresentaram oficialmente, e colocaram no ar, a aeronave, batizada de Sora-e, na pista do aeroporto da binacional, […]

Avião elétrico batizado de Sora-e

Esta semana pontuou o setor de aviação com o registro histórico do voo inaugural do primeiro avião elétrico tripulado da América Latina. Na terça-feira (23.06), Itaipu Binacional e a empresa ACS Aviation, de São José dos Campos (SP), apresentaram oficialmente, e colocaram no ar, a aeronave, batizada de Sora-e, na pista do aeroporto da binacional, localizada na margem paraguaia da usina, no município de Hernandarias.

O piloto responsável pelo voo histórico foi engenheiro Alexandre Zaramella, sócio-diretor da ACS Aviation. O voo durou apenas cinco minutos de duração, mas foi suficiente para situar o Brasil e o Paraguai na vanguarda do desenvolvimento tecnológico de aeronaves tripuladas com propulsão elétrica. O Sora-e decolou exatamente às 14h28 (horário de Brasília) e sobrevoou o entorno do reservatório da usina Itaipu. Às 14h33 retornou à pista do aeroporto, conforme estava previsto no plano de voo.

Na avaliação de Alexandre Zaramella, “o Sora-e é mais silencioso e a resposta do motor elétrico é mais rápida do que no sistema a combustão”.  Ele destacou também a “curva de torque”, ou seja, a resposta do avião ao comando de potência do piloto. “Essa é a grande diferença”, disse, na comparação com o avião convencional. “O avião elétrico está mais na mão.” Zaramella disse que o maior desafio do setor, hoje, é desenvolver baterias com maior densidade, para aumentar a autonomia dos modelos elétricos.

“Nós hoje estamos nos sentindo como Santos Dumont, quando fez o primeiro voo com o 14 Bis. [Na época] Ninguém acreditava, mas era o primeiro passo de uma grande caminhada. Por isso, este é um teste vitorioso, que mostra a viabilidade do processo”, avaliou Jorge Samek, diretor-geral brasileiro de Itaipu.

Segundo ele, as pesquisas com o avião elétrico reforçam o compromisso do Brasil e do Paraguai de desenvolver tecnologias limpas e “mostram que é possível compatibilizar o desenvolvimento, a geração de emprego, a vida do planeta e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente”.

Margaret Groff, diretora financeira executiva da Binacional, lembrou que Itaipu já é referência na área de mobilidade elétrica sustentável, com carros, ônibus e caminhões elétricos, e também no desenvolvimento de sistemas inteligentes de armazenamento de energia e de monitoramento de frotas. Agora, torna-se referência no setor aeronáutico. “O avião representa mais um passo que estamos dando no desenvolvimento de protótipos elétricos. E é uma inovação até mesmo para a América Latina. Todo esse trabalho serve de base para as nossas pesquisas, especialmente no desenvolvimento de componentes para a indústria. Nossa meta é fortalecer a indústria nacional na área de mobilidade”, afirmou.

O projeto Sora-e

Desenvolvido pelas equipes técnicas de Itaipu e da ACS, o Sora-e está equipado com dois propulsores Enrax, de 35 kW cada um, fabricados na Eslovênia, e seis packs de baterias de lítio íon polímero, totalizando 400 volts. O modelo pode levar duas pessoas (piloto e passageiro) e tem autonomia de 45 minutos de voo, expansível para uma hora e meia, com velocidade de cruzeiro de 190 km/h e velocidade máxima de 340 km/h.

A estrutura é de fibra de carbono e a hélice foi fabricada nos Estados Unidos, pela empresa Craig Catto, atendendo às especificações do projeto. São oito metros de envergadura (de uma ponta a outra da asa) e peso total de 650 quilos.

As pesquisas para desenvolver o Sora-e começaram em 2012, dentro do Programa VE de Itaipu, em parceria com própria ACS Aviation e a Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A base do projeto foi o modelo esportivo acrobático ACS-100 SORA, com motor a combustão, produzido pela empresa paulista.

Os testes de bancadas e simuladores foram feitos em agosto do ano passado no Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Montagem de Veículos Movidos a Eletricidade (CPDM-VE) de Itaipu. Já os ensaios em solo foram concluídos em dezembro, em São José dos Campos.

Um voo de avaliação técnica, fechado para a imprensa,  já havia sido feito no dia 18 de maio, também em São José dos Campos, com a presença da equipe técnica de Itaipu. O modelo foi certificado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na categoria Pesquisa e Desenvolvimento.

De acordo com Celso Novais, coordenador brasileiro do Programa Veículo Elétrico (VE), o interesse de Itaipu no projeto é aprofundar os estudos sobre materiais compostos usados no setor aeronáutico, considerados fundamentais para a redução do peso dos veículos elétricos. Quanto menor o peso, maior a autonomia.

Os elétricos de Itapu

O Sora-e é o novo integrante da família de elétricos de Itaipu, que desde 2006 desenvolve o Programa VE, em parceria com várias companhias do Brasil e do exterior.  Neste período, a empresa já montou mais de 80 protótipos elétricos – incluindo carros de passeio, caminhão, utilitário e ônibus –, a metade incorporada à própria frota e o restante destinado a parceiros do programa.

 

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