Cleber Lucas, presidente da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac)

As perspectivas da cabotagem e os impactos do programa BR do Mar, proposto pelo governo federal. “A concorrência entre empresas instaladas sob as mesmas regras é sempre muito boa para a sociedade”, afirma Lucas.

Transporte Moderno  A cabotagem tem apresentado crescimento mesmo neste período de crise devido à pandemia do Covid-19. A que fatores o senhor atribui esse bom desempenho?

Cleber Lucas – A pandemia, tendo afetado a economia do país como um todo, também teve reflexos na cabotagem. Entretanto, sendo importante elo na cadeia logística brasileira e fundamental para manter o abastecimento das regiões do imenso Brasil, estes impactos não foram tão sérios quanto nos outros setores, mas em determinados momentos a queda na movimentação chegou a atingir o elevado índice de 30%.

Transporte Moderno –  O setor apresenta incremento consistente nos últimos dez anos, mas o modal ainda é pouco explorado se pensarmos no potencial do país? O que falta para que haja um aumento mais significativo à cabotagem brasileira?

Cleber Lucas – Realmente, o crescimento tem sido consistente nos últimos anos e, sem dúvida, este crescimento deve-se muito a atuação das empresas na busca de novos clientes. O uso da cabotagem em uma empresa exige mudança de cultura da empresa, pois o transit time é alterado e os volumes de cada movimento são elevados, exigindo até mesmo adequação dos centros logísticos.

Transporte Moderno – Há muita expectativa em relação ao programa BR do Mar. Como o senhor avalia o pacote de medidas?

Cleber Lucas – O BR do Mar tem a intenção de fazer ajustes na legislação da navegação para torná-la mais barata aos usuários e, portanto, fazer mais migração de cargas do rodoviário para o aquaviário, ainda que sempre dependeremos do rodoviário nas pontas da cadeia logística. Certamente, isto só será possível se a medida conseguir reduzir os custos operacionais de uma empresa de navegação, na operação dos navios de sua propriedade e os afretados.

Avaliamos que, sendo uma medida estruturada e avaliados os vários impactos que poderá causar às empresas já operando na cabotagem, bem como a forma como os novos entrantes atuarão, é muito bem-vinda.

Transporte Moderno – Algumas críticas têm sido feitas ao programa principalmente relativas aos impactos negativos que ela teria em relação aos armadores e aos estaleiros nacionais. O senhor acredita que o BR do Mar possa ser prejudicial a esses segmentos?

Cleber Lucas – Como mencionado, esperamos que ela seja útil para as empresas de navegação já instaladas e operando, bem como que possa atrair novas empresas num mesmo nível de atuação. A concorrência entre empresas instaladas sob as mesmas regras é sempre muito boa para a sociedade. Sobre a indústria naval, entendemos que ela é eficiente nos segmentos da navegação interior, apoio marítimo e portuário e devem otimizar o que sabem fazer bem.

Transporte Moderno – O que o poder público poderia fazer para incentivar o transporte por cabotagem no país?

Cleber Lucas – Dar segurança jurídica e viabilizar novos investimentos com geração de emprego e renda.

Transporte Moderno – Quais as perspectivas para o transporte de cabotagem nos próximos cinco anos?

Cleber Lucas – Manter o crescimento, pois estudos da ILOS indicam que para cada contêiner movimentado na cabotagem existem outros cinco que poderiam migrar para este modal. Se a economia do país crescer, mais projetos surgirão e mais cargas a granel serão movimentadas e as EBN estão prontas para novos investimentos.

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