Eduardo Ghelere, diretor executivo da Ghelere Transportes: “O setor de transporte ainda tem muito para crescer. É um segmento de oportunidades, de muito trabalho, e que é de extrema importância para a nossa economia. No nosso caso, o modal rodoviário é o principal. Apenas o rodoviário chega na última milha e concretiza a atividade”

“A principal dificuldade enfrentada atualmente é o alto valor do combustível, sem sombra de dúvidas, e isso prejudica no curto prazo. Agora, quando você olha para longo prazo, acredito que seja o problema da mão de obra”, afirma o executivo

Transporte Moderno – Como está sendo o ano para o setor de transporte rodoviário de cargas? E para a Ghelere Transportes em especial?

Eduardo Ghelere – O ano para o setor de transporte rodoviário de cargas está sendo muito difícil, devido às circunstâncias de aumento de custo, dentre eles o diesel que vem pressionando muito. Então, temos dificuldade para repassar isso aos nossos clientes ou, mesmo conseguindo, existe um tempo de demora que é prejudicial para a empresa, visto que a nossa margem é muito pequena. Com isso, não tem tanta disponibilidade de caixa para fazer algumas coisas interessantes, já que é preciso lucro para isso. Para a Ghelere Transportes, em especial, não muda muita coisa. Também está sendo um ano difícil, mas estamos conseguindo trabalhar e nos adaptar à essa realidade. Temos uma flexibilidade grande e gestores competentes que conseguem achar outras alternativas, melhorar a eficiência e trabalhar de alguma maneira que possamos viabilizar o nosso negócio. A empresa já tem bastante tempo, uma estrada grande e expertise. Não é a primeira nem a segunda crise pela qual passamos.

Transporte Moderno – Quais as peculiaridades no transporte de cargas lotação e de alimentos e bebidas?

Eduardo Ghelere – Nós atendemos cargas lotação. Em transporte de alimentos e bebidas, temos muitas características importantes. A principal delas é o controle de limpeza e cuidado com avarias. Imagina que o transporte que a gente faz é o elemento que você consome na mesa. Então, olhando para essa perspectiva, tem um cuidado muito grande para que não tenha contaminação, saquinho furado de arroz, vazamento no litro de óleo e tudo mais, porque isso pode contaminar grande parte da carga. O cuidado é voltado mais para esse sentido de segurança alimentar e segurança viária. O transporte de bebida não é diferente, bebida para nós é alimento. Temos que ter o mesmo cuidado e a mesma característica. A diferença é que a embalagem é um pouco mais estruturada e permite um pouco mais de volume transportado.

Transporte Moderno – Quais as principais dificuldades? O preço dos combustíveis está prejudicando as transportadoras?

Eduardo Ghelere – A principal dificuldade enfrentada atualmente é o alto valor do combustível, sem sombra de dúvidas, e isso prejudica no curto prazo. Agora, quando você olha para longo prazo, acredito que seja o problema da mão de obra. Essa dificuldade, daqui para frente, vai ser cada vez maior. Nós temos uma barreira de entrada de motorista no transporte de cargas que é muito demorada, porque você não consegue fazer uma carteira de categoria E, em menos de dois anos. É necessário passar pela experiência na carteira C, D ou ir direto para a E. Mas tem esse tempo de Detran, Denatran, cursos e afins. Isso acaba sendo uma barreira. Embora você tenha um mercado amplo, o Brasil inteiro tem motorista. Somos um país continental e vamos precisar de muito mais. Quanto mais aquece a economia, mais precisa de mão de obra e principalmente especializada. Cabe às empresas de transportes também pensarem cada vez mais nisso, para que seja uma porta de entrada para reverter este cenário.

Transporte Moderno – Quais os investimentos previstos pela empresa para 2022?

Eduardo Ghelere – Em 2022, prevíamos um investimento de R$ 30 milhões, e vamos realizar isso independente do cenário. Até o momento, já aportamos R$ 26 milhões, no que inclui: móveis e utensílios, máquinas e equipamentos, rastreadores, cavalos, carretas, veículos leves e computadores.  Para o próximo ano, vamos investir em uma sede própria, maior, e posteriormente ampliar o nosso serviço.


Transporte Moderno – Houve renovação de frota?

Eduardo Ghelere – Sim e, para nós, sempre haverá renovação de frota. Nós trabalhamos com os caminhões em média oito anos, então, a cada oito anos, vamos ter que comprar uma quantidade grande de veículos. Se não crescermos nada, esperamos comprar 30 veículos todo ano.

Transporte ModernoQuais os perfis de cargas mais demandadas atualmente?

Eduardo Ghelere – As cargas mais demandadas que transportamos, acredito que sejam todas paletizadas, ou seja, são cargas de produtos, alimentos, bebidas, embalagens e qualquer coisa que possa ser paletizado e carregado com empilhadeira.

Transporte Moderno – Quais as principais ações na área de sustentabilidade?

Eduardo Ghelere – Uma das coisas que mais priorizamos na empresa é a questão da sustentabilidade. Hoje, todos os nossos veículos possuem defletores de 2015 para frente, assim como a implementação de balão de ar nas carretas para reduzir o índice de avaria, e toda a nossa frota é certificada pelo programa despoluir. Temos, desde 2017, pneus ecoeficientes e, em 2021, instalamos painéis solares nos veículos, de modo que a bateria aumente e dobre a durabilidade. Além disso, utilizamos combustível dos nossos próprios postos internos e, em algumas bases, isso já ocorre há dez anos. Existem muitas novidades chegando por aí. Sempre analisamos como melhorar a nossa eficiência e estamos pensando nessas mudanças de eletromobilidade que estão ocorrendo.

Transporte Moderno – Quais as perspectivas para os próximos meses?

Eduardo Ghelere – Mesmo diante dessas dificuldades, acredito que o setor de transporte ainda tem muito para crescer. É um segmento de oportunidades, de muito trabalho, e que é de extrema importância para a nossa economia. No nosso caso, o modal rodoviário é o principal. Os outros modais se complementam, mas apenas o rodoviário chega na última milha e concretiza a atividade. Com a onda da tecnologia cada vez mais presente, vejo que será de grande benefício para as nossas operações e trabalharemos muito para atender a essas demandas também.

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