Paulo Rossi, presidente executivo da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), e Luiz Antonio Barbagallo, economista e consultor da entidade: “O agronegócio é fator importante para o crescimento dos consórcios de caminhões”

“Diante dos excelentes resultados obtidos pelo sistema de consórcios, no qual o segmento de veículos pesados teve o maior crescimento percentual em cotas comercializadas no primeiro quadrimestre, acreditamos na manutenção de uma boa performance até o final do ano”, comenta o presidente executivo da ABAC

Transporte Moderno – Qual a importância dos consórcios no mercado de pesados, especificamente no segmento de caminhões e ônibus?

Paulo Rossi – O consórcio de veículos pesados inclui caminhões, ônibus, implementos rodoviários, além de máquinas e implementos agrícolas. São mais de 670 mil participantes ativos, segundo o balanço do sistema de consórcios encerrado em abril. Deste total, dois terços representam os setores de transportes de cargas e de passageiros. Assim, aproximadamente 450 mil consorciados buscam, como objetivo principal, renovar ou ampliar suas frotas, com maioria absoluta para o setor de cargas.

Entre as razões mais citadas para o profissional autônomo ou empresário de transportes rodoviário de cargas, a adesão ao consórcio prende-se ao planejamento visando usufruir das vantagens que o consórcio proporciona: prazos longos de pagamento, custos finais mais baixos, parcelas compatíveis com a renda e orçamento, preservação do poder de compra, economia na manutenção ao adquirir veículo novo ou mesmo seminovo, entre outros.

Transporte Moderno – Como foram esses primeiros meses para os consórcios voltados para o mercado de pesados?

Luiz Antonio Barbagallo – Parcela importante do mercado, os participantes ativos de veículos pesados representam 9% do total de 7,48 milhões de consorciados ativos em veículos automotores, ou seja, 673,51 mil. Os demais 54,9% são de veículos leves e 36,1% nos de motocicletas. Infelizmente, não dispomos de dados separados por caminhões e ônibus. Ao lembrar novamente que dois terços integram o segmento de caminhões, pode-se destacar ainda que, na análise dos quatro primeiros meses deste ano, a partir dos créditos oriundos das contemplações, observa-se que uma a cada duas comercializações de caminhões pode ser realizada pelo consórcio no mercado de veículos pesados. Essa relação é de 44,3% de potencial presença nas vendas no mercado interno, considerando os dados divulgados pela Fenabrave.

Transporte Moderno – O tíquete médio para pesados aumentou em 2023?

Luiz Antonio Barbagallo – Sim. Ao lembrar a relação de participação de consorciados de caminhões no setor de veículos pesados, dois terços dos participantes, vale destacar que o tíquete médio, em abril, foi de R$ 168,07 mil, 10,8% maior que os R$ 151,65 mil, registradas no mesmo mês do ano passado.

Transporte Moderno – Os juros altos afetam o mercado de consórcios para veículos pesados?

Luiz Antonio Barbagallo – Ao longo da história do sistema de consórcios, diversos estudos mostraram que não existe correlação entre vendas de cotas e taxas de juros. É importante avaliar que a aquisição de caminhão por meio do consórcio difere da compra por financiamento, pois são perfis diferentes de consumidores com características distintas. Aquele que adquire cota de consórcio tem perfil planejador, e não tem urgência na obtenção do bem. Caso o interessado necessite do bem de imediato em função de sinistro verificado com o antigo caminhão, por exemplo, a aquisição por outra modalidade de compra parcelada, como o financiamento, é uma opção. Neste caso, além de ter que passar pela aprovação do crédito, deverá arcar com o ônus dos juros e pagar parcelas mensais maiores, tornando o custo final maior.

Todavia, se não houver necessidade imediata, o interessado poderá planejar a compra pelo consórcio de veículos pesados, com parcelas mensais adequadas ao faturamento da empresa ou orçamento individual em caso de autônomo, visto só haver cobrança de   taxa de administração que é diluída ao longo de duração do grupo. Lembrando, ainda, que a contemplação que permitirá acesso ao crédito poderá ocorrer mensalmente por sorteio ou ainda por lance, no decorrer da sua participação no grupo.

Transporte Moderno – Quais as perspectivas para os próximos meses? O crescimento deve se manter ou até se expandir?

Paulo Rossi – Nos primeiros quatro meses, a economia brasileira vive a expectativa de baixa da inflação com consequente redução da Taxa Selic. As mais de 70% de famílias endividadas, oscilações do dólar com tendência à retração e as expectativas dos agentes econômicos com as novas medidas governamentais, entre outros fatores, podem estar contribuindo para o adiamento de decisões por parte de consumidores e investidores. Mesmo com o fechamento da inflação em 4,18% até abril, registrados nos últimos 12 meses, abaixo dos 12,13% anotados de maio de 2021 a abril de 2022, e considerando a manutenção da taxa de juros básica (Selic) em 13,75%, a assessoria econômica da ABAC projeta crescimento para o sistema de consórcios durante 2023.

Diante dos excelentes resultados obtidos pelo sistema de consórcios, no qual o segmento de veículos pesados teve o maior crescimento percentual em cotas comercializadas no primeiro quadrimestre, acreditamos na manutenção de uma boa performance até o final do ano. De acordo com dados do IBGE, o setor de serviços cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2023 e o subgrupo com melhor desempenho foi o de transporte e armazenagem, impulsionado por transporte de carga devido à safra recorde. Tais resultados reforçam nosso otimismo.

Transporte Moderno – O agronegócio tem aquecido o setor de consórcios para caminhões?

Paulo Rossi – Realmente, o agronegócio é fator importante para o crescimento dos consórcios de caminhões, visto o bem ser fundamental para o transporte de insumos e para escoamento da safra. O crescimento do consórcio de máquinas e implementos agrícolas contribui diretamente para a expansão do agronegócio e consequentemente para o crescimento econômico do Brasil.

Aqui, vale considerar que, lado a lado com esses bens, o caminhão tem papel importante no conjunto de atividades do agronegócio. O crescimento do PIB em 1,9% no primeiro trimestre deste ano, quando comparado ao último trimestre de 2022, foi o maior desde 2020 e a agricultura teve seu melhor desempenho desde 1996. Esses dados reforçam nosso otimismo com o segmento. Por ser a forma mais simples e econômica de adquirir bens, o aumento das vendas de novas cotas nos grupos de consórcios justifica-se por fatores como prazos de duração, taxa de administração, custo final, linha de crédito sempre disponível, objetivando redução de custos e aumento de lucratividade. 

ANTRANIK PHOTOS& Luiz Antonio Barbagallo, economista

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