Cassio Pagliarini, consultor da Brigth Consulting: “Eletrificação tem a ver com a regeneração e tem a possibilidade de utilizar frenagens para colocar a energia de volta. Os elétricos apresentam 97% do aproveitamento de energia”

“Quando o carro elétrico inicia uma subida, existe o consumo de energia produzida pelas baterias, mas quando o veículo começa a descida, o sistema de recuperação de energia repõe a maior parte do que foi gasto. Já nos motores tradicionais, a perda da subida não tem compensação”, destaca o especialista

Transporte Moderno – Qual a sua visão do carro elétricos?

Cassio Pagliarini – O aumento de CO² na atmosfera foi causado pelo homem e foi resultado de um processo longo e contínuo. Agora precisamos encontrar uma maneira de reduzir as emissões. Eletrificação tem a ver com a regeneração, tem a possibilidade de utilizar frenagens para colocar a energia de volta. Os elétricos apresentam 97% do aproveitamento de energia. Este percentual é fantástico! Temos várias maneiras de movimentar um veículo. A tradicional é aquela a combustão, cujo funcionamento as pessoas conhecem. Depois temos o elétrico, com um pequeno gerador que alimenta a bateria que fornece energia para o motor elétrico. Temos ainda o híbrido, com motor a combustão e um elétrico, e os dois juntos oferecem uma boa potência para o carro.

Transporte Moderno – Os híbridos são mais aconselháveis para esta transição até o elétrico?

Cassio Pagliarini- Os híbridos levam vantagem no Brasil. Afinal, o país tem como combustível o etanol, com uma emissão muito menor de gás carbônico pela compensação dos canaviais.  Além disso, este tipo de veículo tem toda a disponibilidade necessária para o consumidor.

Transporte Moderno – O que torna os elétricos tão caros?

Cassio Pagliarini – A produção do veículo é mais simples e o número de componentes é bem menor. O custo se torna muito alto com a bateria, que é muito cara, mas ela está evoluindo na autonomia e existem sinais de que no decorrer dos anos sofrerá uma redução bastante acentuada.

Transporte Moderno – Como será feito o descarte das baterias?

Cassio Pagliarini – Quando a bateria termina seu ciclo de utilização no veículo ela não poderá ser escrapeada, seja pelos elementos químicos que possui em seu interior, seja pelo próprio peso. A tendência será a reutilização para armazenamento de energia. Ela também pode ser reaproveitada com a troca dos elementos com pouca carga, além da utilização em operações. As baterias com chumbo podem ser recicladas. Toda indústria, tanto a automotiva quanto a de baterias, está em busca de novas soluções e destinações para estes acumuladores. Acredito na tecnologia e alguma boa ideia irá surgir.

Outra questão a ressaltar é que o declínio da capacidade da bateria não é rápido demais. Em cinco anos perde em torno de 30%. Existem empresas que trocam os elementos e aumentam a durabilidade.

Transporte Moderno – Quais são os tipos de utilização mais adequados para os elétricos?

Cassio Pagliarini – Em algumas aplicações o elétrico se impõe. Por exemplo, em veículos de carga para distribuição urbana ou em localidades mais próximas de grandes centros, para taxis, furgões e caminhões leves. São veículos sem ruídos, com suas revisões sendo muito rápidas exatamente pelo número reduzido de sistemas e peças, custo operacional muito mais barato, revenda com um preço atraente e a recarga pode ser feita em sete ou oito horas.

O custo do quilômetro rodado de uma van elétrica fica em torno de 15 a 18 centavos. Já o diesel custa entre 60 a 65 centavos. O IPVA na maioria das cidades já traz descontos ou foi zerado. As revisões são feitas a cada 20 mil km, com custo entre R$ 400 a R$ 500 reais. Sai muito mais em conta pois não tem óleos e filtros para serem trocados

Transporte Moderno – Nesta encruzilhada que o Brasil atravessa para decidir os caminhos que vai seguir para atingir os objetivos da descarbonização, quais são os pontos que o deixam preocupado?

Cassio Pagliarini – Sempre é preocupante quando se colocam políticos para tomarem decisões técnicas. Importante ouvir os técnicos e especialistas nestas questões. Também é bom lembrar que na Europa já decidiram que motores a combustão deixam de ser produzidos a partir de 2035, com exceção para aqueles que utilizarem combustível sintético que a Alemanha já desenvolveu no passado e custava quatro vezes mais caro que o convencional. O Brasil precisa andar mais rápido nas decisões sobre uma rota para o futuro: decidir sobre as políticas para o etanol, os impostos de importação de elétricos e estabelecer IPI adequado para incentivar determinadas alternativas energéticas. Temos de correr na busca de uma política industrial completa e adequada para estes novos tempos.

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